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Reflexões sobre a escolha de repertório para nossos coros – 3

Isabela Sekeff

15 de jun. de 2023

Para qual evento específico você está selecionando esse repertório?

3 – Qual o tamanho do meu repertório e quanto tempo tenho para prepará-lo?

 

A última e terceira pergunta refere-se à minutagem total do seu repertório e ao tempo de que você vai necessitar para prepará-lo no total. Será que pensamos nisso quando escolhemos nossas músicas? Para qual evento específico você está selecionando esse repertório: um concerto especial, uma data comemorativa, uma viagem, uma participação em um festival? Quantas músicas serão necessárias? Qual a minutagem total desses eventos? As peças precisam estar prontas em um mês? Um semestre? Um ano? Você vai trabalhar somente com músicas novas? Ou vai disponibilizar obras que já foram feitas no coro? Essas informações podem ser cruciais para sua escolha, porque elas vão determinar de maneira objetiva a quantidade de obras, quanto tempo total de repertório você deverá preparar e quanto tempo de ensaio teremos para utilizar em cada música. Com frequência, começamos nosso repertório sem nos preocupar com isso, e vamos trabalhando uma série de músicas sem nos darmos conta de que nosso repertório tem que ser funcional.


Procure sempre definir antecipadamente para qual situação você está ensaiando e preparando o coral. Se possível, faça um planejamento antecipado das apresentações do semestre ou do ano, direcionando suas escolhas para cada cenário previamente definido. Essa organização vai ajudar a estabelecer a quantidade de músicas, as temáticas a serem escolhidas ou ainda a formatação do seu repertório. Separar músicas para um concerto de uma hora de duração é completamente diferente de selecionar músicas para um festival ou uma data comemorativa. Por isso, é necessário pensar de maneira prática e objetiva. Não tem nada mais frustrante para um coro que ensaiar uma música por muito tempo e nunca ter a possibilidade de apresentá-la.


É fundamental também que você conheça a capacidade de aprendizagem e montagem do grupo para o qual está separando esse repertório e que tenha consciência do grau de dificuldade das músicas que você está escolhendo. Não adianta oferecer uma música linda e desafiadora, mas que vai trazer mais frustração do que realização. Devemos evitar trazer dificuldades maiores do que eles podem vencer naquele momento. Por outro lado, também é monótono para um grupo fazer sempre o mesmo tipo de obra, com o mesmo grau de dificuldade, sem estímulos diferentes. Devemos caminhar sempre no meio desses dois propósitos: o repertório deve ser possível, mas, ao mesmo tempo, desafiador. Como regente, cabe a você saber o tamanho do passo a ser dado para vencer as dificuldades de maneira linear e contínua.


Com isso em mente, pense em quanto tempo você terá para ensaiar esse repertório. Quanto mais tempo você tem, maior fica a sua possibilidade de escolha, pois você terá um prazo mais largo para investir no repertório escolhido. Não deixe para decidir durante o processo. Verifique, também, quantas horas de ensaio você tem por semana e como elas serão dividas durante a semana. Existe uma grande diversidade de formatações de ensaios: desde coros que ensaiam uma vez por semana, em encontros de uma hora, até grupos profissionais que ensaiam cerca de 20 horas em cinco dias por semana. Essa disponibilidade de tempo e quantidade de ensaio nos mostra quantas vezes e por quanto tempo o cantor vai ter contato com a música sob a orientação do maestro. Por exemplo, um ensaio de três horas por semana é diferente de dois ensaios de 1h30 por semana. Na primeira situação, eu encontro meu coro quatro vezes ao mês; na segunda, oito vezes ao mês. Ou seja, vou ter muito mais oportunidade de fazer correções e avançar no repertório. Sabemos que nem sempre temos autonomia para definir quantos ensaios e quantas horas semanais teremos nos nossos grupos, porém, ao se conscientizar desse tempo que você tem com seu coro, é possível planejar qual a duração de repertório útil que você tem autonomia para fazer.


Sempre tenha diferentes níveis de músicas no seu repertório. Misturar músicas fáceis, médias e difíceis podem diversificar seu trabalho e ajudar a tornar o processo mais fácil e leve. É importante que seus coralistas sempre saiam do ensaio com uma experiência concreta do fazer musical/coral e, ao mesmo tempo, com a sensação de que ainda falta alguma coisa para ficar melhor. As músicas fáceis ficam prontas mais rápido e trazem a sensação de realização de maneira mais imediata. As músicas médias apresentam desafios a curto prazo e constroem neles, de maneira acessível, o caminho da conquista; por fim, aquelas mais difíceis, que demoram um pouco mais, apresentam desafios concretos e vitórias que eles não imaginavam possíveis. Com isso em mente, você também pode desenvolver no seu grupo a capacidade de aprender a estudar e a se preparar para os ensaios.

 

No final de tudo, temos muitas perguntas para nos orientar e muitas decisões a tomar. Nem sempre é possível pensar em tudo ao mesmo tempo. Porém, ao passar por esses questionamentos, podemos estabelecer um caminho de escolha com mais precisão e direcionamento. Mas atenção, quanto maior nosso repertório individual, como músicos, maior o nosso leque de opções, ideias, sugestões e possibilidades. Por isso, ouça muita música, especialmente música coral. Ouça o que você gosta e o que não gosta. Amplie seu repertório, sempre! Crie sua própria biblioteca de repertório. E colecione partituras!!! Você sempre terá uma oportunidade de usá-las. Acredite!

 

Em resumo, seguem dicas para ajudar na seleção do repertório do seu coro:

 

1 – A escolha do repertório adequado é grande parte do sucesso do seu coro e do seu trabalho.

2 – Identifique o elemento motivador do coro, a fim de selecionar um repertório que esteja alinhado com seu propósito.

3 – Use a formação vocal do coro a seu favor. A formação ideal é aquela que promove a melhor sonoridade de seu grupo.

4 – Lembre-se de que o repertório deve conquistar o coro e a plateia. Não faça só o que você gosta. Considere as demandas técnicas e humanas do grupo.

5 – Seja inovador. Procure, pesquise e busque um repertório individualizado para cada coro. Procure não fazer somente o que você conhece ou o que já está habituado a fazer. Desafie-se.

6 – Utilize o repertório como instrumento didático-pedagógico para fazer com que o grupo cresça musicalmente a cada música e/ou a cada programa.

7 – Proponha um repertório que traga variedade e diversidade. Busque por contrastes, mudanças de andamento, estilos, sonoridades. Escolha um repertório colorido.

8 – Escolha um repertório funcional, que possa ser usado em várias situações.

9 – Planeje a escolha das músicas pensando que o repertório deve ser prazeroso, possível e desafiador ao mesmo tempo.

10 – Misture os graus de dificuldade das músicas. Traga um repertório que apresente músicas fáceis, médias e difíceis.

11 – Ouça muita música. Construa sua própria biblioteca de partituras, baseada em sua própria experiência.

12 – Lembre-se sempre: o repertório é o começo, o meio e o fim de nosso trabalho.

 

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